Ana Carolina Guerra da Redação
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou nesta quinta-feira (17) uma carta endereçada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em que volta a defendê-lo das acusações que enfrenta no Supremo Tribunal Federal (STF) e critica diretamente a Justiça brasileira. Na mensagem, divulgada em sua rede social Truth Social e com timbre da Casa Branca, Trump afirma: “Vi o terrível tratamento que você está recebendo nas mãos de um sistema injusto (…). Este processo deve terminar imediatamente!”.
A declaração ocorre em meio à recente decisão do governo norte-americano de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, uma medida que vem sendo interpretada como tendo motivações políticas. Além de alegar desequilíbrio comercial, Trump tem associado a medida a críticas ao Judiciário brasileiro e a alegados ataques à liberdade de expressão.
“O governo brasileiro realiza ataques à liberdade de expressão, tanto no Brasil quanto nos EUA”, disse Trump, sem apresentar provas.
Bolsonaro é réu em uma ação penal que apura a tentativa de golpe de Estado planejada por um núcleo político e militar próximo ao ex-presidente. A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao STF a condenação de Bolsonaro por tentativa de golpe, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. De acordo com a PGR, Bolsonaro liderou uma organização criminosa armada com o objetivo de desacreditar o sistema eleitoral, incitar ataques a instituições democráticas e articular medidas de exceção. O julgamento ainda não tem data definida.
A carta de Trump gerou reações imediatas no Brasil. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, classificou o gesto como uma tentativa explícita de interferência em assuntos internos do país.
“A carta de Donald Trump a Jair Bolsonaro expõe cruamente a chantagem que estão fazendo contra o Brasil. O estadunidense exige que o país desista da soberania nacional, de nossa Justiça e nossas leis, para desarmar as tarifas e sanções que ameaça impor ao país. Quanto mais se aproxima a hora do julgamento, mais claro fica que Bolsonaro coloca seus interesses acima de tudo, inclusive do Brasil e do povo brasileiro”, afirmou.
Também questionado sobre a carta, o vice-presidente Geraldo Alckmin reforçou que as tarifas são tema do comércio exterior e não têm relação com o Judiciário. “Uma coisa é questão do Poder Judiciário e é importante destacar que a separação dos poderes é pedra basilar do Estado Democrático de Direito e outra coisa é a tarifa, que é comércio, e no comércio se busca solução”, afirmou.
Bolsonaro respondeu à carta com um vídeo publicado nas redes sociais. Nele, agradeceu a Trump, leu trechos da mensagem e alegou ser vítima de perseguição política. “Querem alijar a maior liderança de direita da América do Sul”, declarou o ex-presidente.
No início de junho, o STF avançou para a fase final da ação penal contra Bolsonaro e seus aliados. O ministro Alexandre de Moraes encerrou a instrução processual e autorizou o início das alegações finais. A decisão abre caminho para que o julgamento do caso ocorra ainda neste ano. Até o momento, 497 pessoas foram condenadas por envolvimento nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A maioria foi considerada culpada pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa. Oito foram absolvidas.
Enquanto isso, Donald Trump tem reiterado publicamente seu apoio a Bolsonaro e classificado o processo como uma “caça às bruxas”, intensificando a pressão política e diplomática entre os dois países.
Leia o que diz a carta na íntegra:
“O Honorável
Jair Messias Bolsonaro
38º Presidente da República Federativa do Brasil
Brasília
Caro sr. Bolsonaro:
Eu vi o terrível tratamento que você está recebendo nas mãos de um sistema injusto voltado contra você. Este julgamento deve terminar imediatamente! Não estou surpreso em vê-lo liderando nas pesquisas; você foi um líder altamente respeitado e forte que serviu bem ao seu país.
Compartilho seu compromisso de ouvir a voz do povo e estou muito preocupado com os ataques à liberdade de expressão, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, vindos do atual governo. Manifestei veementemente minha desaprovação, tanto publicamente quanto por meio de nossa política tarifária. É minha sincera esperança que o Governo do Brasil mude de rumo, pare de atacar oponentes políticos e acabe com seu ridículo regime de censura. Estarei observando de perto.”