Em um caso que escancarou os contrastes de classe e poder, o procurador da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), Luiz Eduardo Figueiredo Rocha e Silva, 52 anos, entregou-se à Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) na tarde desta quinta-feira (10), assumindo a autoria do assassinato de Ney Muller Alves Pereira, 42, um homem em situação de rua, alvejado com um tiro no rosto na noite anterior.
O crime ocorreu nas imediações da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), na Avenida Edgar Vieira, bairro Boa Esperança. De acordo com o depoimento prestado por Luiz Eduardo, o disparo foi motivado por um suposto dano causado ao seu veículo, uma Land Rover, por parte da vítima — que, segundo ele, teria arremessado uma pedra contra o automóvel momentos antes.
O procurador alegou legítima reação ao dano patrimonial, justificando o disparo como resposta ao ataque. No entanto, a versão apresentada enfrenta resistência tanto pela dinâmica do crime quanto pela configuração penal. O delegado do caso enquadrou o ato como homicídio qualificado por motivo fútil e emboscada. A arma utilizada foi entregue às autoridades, assim como o veículo, que passará por perícia.
Durante a apresentação, Luiz Eduardo estava acompanhado de seu advogado, Rodrigo Pouso Miranda, que sustentou a tese de que não houve premeditação. Para ele, o episódio configura uma “fatalidade” e não uma execução deliberada. “Ele é uma pessoa de bem, com histórico limpo, que se apresentou de forma espontânea e está colaborando. Vai cumprir o que a norma determina”, afirmou.
Apesar da tentativa de suavizar a gravidade do ato, a cena do crime e os detalhes já apurados indicam outra perspectiva. Testemunhas relataram que o procurador teria chamado Ney Muller para perto do carro antes de disparar. Após o tiro, ele deixou o local em alta velocidade, seguindo pela Avenida Fernando Corrêa da Costa.
A alegada motivação — um suposto dano ao carro — é tratada pela Polícia Civil como insuficiente diante da letalidade da reação. O caso mobilizou setores do Judiciário, da imprensa e da sociedade civil por envolver um membro da alta cúpula do poder legislativo estadual e uma vítima em condição de extrema vulnerabilidade social.
Luiz Eduardo passará por audiência de custódia nesta sexta-feira (11), onde a defesa tentará reverter sua prisão em flagrante, argumentando que ele não representa risco à ordem pública ou à instrução do processo. A prisão preventiva, contudo, é considerada provável devido às circunstâncias qualificadas do crime.
O caso levanta debates sobre privilégios, justiça seletiva e a banalização da vida humana, especialmente de pessoas em situação de rua. O Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) foram acionados para acompanhar o caso, que promete repercussão nos próximos dias.
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🎥: Fonte | agenciadanoticia