Por Rogério Florentino
A paisagem de algumas avenidas e ruas movimentadas de Várzea Grande vai mudar um bocado a partir do próximo dia 12 de maio. É que a prefeitura bateu o martelo e vai começar a retirar 20 radares de fiscalização eletrônica que hoje operam em dez pontos estratégicos da cidade. Quem toca o serviço é a Secretaria de Serviços Públicos e Mobilidade Urbana, e a expectativa é que tudo esteja concluído em no máximo 30 dias. Essa ação é, na verdade, o cumprimento de uma das principais promessas feitas durante a campanha pela atual gestão municipal. E, segundo a prefeitura, a decisão veio depois de estudos técnicos que botaram na balança a redução de acidentes, o volume de multas e as melhorias na sinalização que rolaram nos últimos anos.
Uma promessa antiga
Essa história de tirar os radares não é nova. Foi um compromisso assumido lá atrás, durante a corrida eleitoral, pela prefeita Flávia Moretti (PL) e pelo vice-prefeito Tião da Zaeli (PL). Eles prometeram diminuir a quantidade desses equipamentos em Várzea Grande. O próprio vice-prefeito comentou recentemente que a coisa demorou um pouco para sair do papel por causa de toda a burocracia legal e da necessidade de ter estudos técnicos que justificassem dizer adeus aos aparelhos.
“A demora para fazer essa retirada se deu por conta da legislação, precisávamos realizar um estudo técnico. Este foi um grande pedido da população várzea-grandense, durante o período eleitoral. Estamos apenas cumprindo o que acordamos com a população e vamos continuar ouvindo as demandas, pois governamos para o povo de Várzea Grande”, soltou Tião da Zaeli.
Curiosamente, lá em abril de 2025, o vice-prefeito tinha falado em desativar uns 10 radares. Mas o número dobrou, chegando aos 20 equipamentos em dez locais diferentes. A prefeitura reforça que essa ampliação veio depois de mais análises técnicas da Secretaria de Serviços Públicos e Mobilidade Urbana, que considerou a sinalização viária melhor, menos ocorrências e a quantidade de multas aplicadas nas áreas com radar.
Confira os pontos que ficarão sem os “olhos eletrônicos”
O secretário municipal Lucas do Chapéu do Sol detalhou onde a fiscalização eletrônica vai dar uma pausa. Os equipamentos que vão ser desligados estão nestes locais:
- Avenida Filinto Muller com rua Antenor Mendes Malheiros – Centro
- Avenida Filinto Muller com Avenida Castelo Branco – Centro
- Avenida Filinto Muller – Jardim Eldorado
- Avenida Deputado Ary Leite de Campos com rua 14 – Marajoara
- Avenida Prefeito Murilo Domingos (antiga 31 de Março) – Cohab Cristo Rei
- Avenida vereador Jorge Witzak com Avenida Gonçalo Botelho – Cristo Rei
- Avenida Alameda Júlio Muller – Alameda
- Rua Arnaldo Ângelo do Nascimento (antiga DNER) – Mapim
- Avenida Doutor Paraná – Cristo Rei
- Avenida Arthur Bernardes – Ipase
Essa lista mostra que a mudança vai afetar principalmente vias com tráfego pesado, tanto no centrão quanto em bairros bem populosos, o que deve mexer com o dia a dia dos motoristas nessas áreas.
Bairros no foco da mudança
Olhando a lista, dá para ver que o Centro e o Cristo Rei vão ser os mais impactados, cada um perdendo radares em dois pontos. Outros bairros na rota da desativação são Jardim Eldorado, Marajoara, Cohab Cristo Rei, Alameda, Mapim e Ipase, cada um com um ponto de remoção. São todas regiões com corredores viários importantes, e a ausência dos radares, com certeza, vai fazer os motoristas repensarem o pé no acelerador.
Um pouco da história: como os radares chegaram
Vale lembrar que esses equipamentos de fiscalização não surgiram do nada. Eles foram instalados em Várzea Grande lá em março de 2023, depois de uma licitação que começou a ser desenrolada em julho de 2022. Naquela época, a cidade ganhou 36 radares e 18 semáforos com fiscalização, somando 54 pontos de monitoramento eletrônico espalhados por aí.
O investimento para botar tudo isso para funcionar foi pesado: cerca de R$ 14 milhões. O discurso oficial era que o objetivo principal era diminuir o número de acidentes nas vias mais perigosas do município. E os números preocupavam: segundo dados da gestão anterior, em 2022, Várzea Grande viu as mortes no trânsito subirem 12,5%, pulando de 48 óbitos em 2021 para 54 em 2022.
Os radares pegavam de tudo: excesso de velocidade, avanço de sinal vermelho e aquela paradinha em cima da faixa de pedestres. A avenida da FEB, por exemplo, era vista como uma das campeãs de acidentes, com 86 ocorrências que deixaram 34 vítimas só em 2022.
O lado jurídico da história
A instalação e o funcionamento dos radares em Várzea Grande sempre foram uma novela com capítulos controversos na justiça. Em 2020, a Câmara Municipal chegou a aprovar uma lei (nº 4.677/2020) que proibia radar móvel na cidade e só liberava “a colocação de lombadas eletrônicas e faixas elevadas nas vias de trânsito rápido”. Então, quando os radares fixos foram implementados, muita gente questionou se estava tudo dentro da lei municipal.
Agora, nesse processo de retirada, o vice-prefeito até mencionou a necessidade de um “ok” do Ministério Público, principalmente para os equipamentos que ficam perto de escolas e em travessias de pedestres. Esses detalhes legais e a exigência de estudos técnicos para tirar os radares ajudam a entender por que demorou tanto entre a promessa de campanha e a ação de agora.
E o povo, o que acha disso?
A promessa de remover os radares, claro, não foi unanimidade. Uma enquete feita pelo portal VGNotícias mostrou que a coisa dividiu opiniões: 55% dos internautas eram a favor de tirar os equipamentos, enquanto 40% preferiam que eles continuassem lá, firmes e fortes.
Quem apoiava a retirada geralmente criticava os radares, chamando de “fábrica de multas”, e duvidava que eles realmente ajudassem a prevenir acidentes. Um internauta desabafou: “A avenida 31 de Março tem quatro radares, mesmo assim, continua havendo acidentes”. Outro deu uma sugestão: “É só trocar os radares por faixas elevadas, simples, o problema está resolvido”.
Do outro lado da moeda, quem defendia a permanência dos radares mostrava preocupação com a segurança nas ruas. Uma internauta contrária à retirada foi direta: “Depois que vocês perderem um familiar no trânsito, vocês opinem”. Um recado claro do medo de que a medida possa levar a mais acidentes e mortes.
O ex-secretário de Serviços Públicos e Mobilidade Urbana da gestão passada, Breno Gomes, era um dos que defendiam os radares. Ele afirmava que o município tinha visto uma queda no número de acidentes com mortes e feridos depois que os equipamentos foram instalados. Segundo Breno, a Prefeitura na época tinha cumprido um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para comprar os dispositivos.
E agora, como fica?
A retirada desses 20 radares em Várzea Grande é a prefeitura cumprindo o que prometeu e atendendo a um pedido de uma boa parte da população. A medida, que começa a valer no dia 12 de maio, veio depois de análises técnicas e jurídicas, numa tentativa de equilibrar o desejo dos motoristas com a necessidade de um trânsito seguro.
O real impacto dessa decisão na segurança e na fluidez do trânsito da cidade, só o tempo dirá. A administração municipal vai ter o desafio de pensar em outras formas de garantir que as leis de trânsito sejam respeitadas e que pedestres e motoristas fiquem seguros, principalmente nas vias que vão perder o monitoramento eletrônico.
Fica a dúvida se essa onda de retirada de radares vai continuar em outros pontos da cidade, como a gestão municipal já deu a entender, e quais cartas a prefeitura tem na manga para compensar a falta desses “olhos eletrônicos” nas principais ruas de Várzea Grande.