Ana Carolina Guerra da Redação
Seis pessoas morreram no estado de São Paulo após a ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas com metanol, uma substância altamente tóxica e de uso industrial. Segundo dados oficiais, ao menos 22 casos suspeitos foram registrados, dos quais 17 ainda estão sob investigação. A gravidade da situação tem mobilizado órgãos de fiscalização e saúde pública, provocando reações em diversas regiões do país, especialmente em cidades da Baixada Santista, que adotaram medidas preventivas para evitar novos casos.
Em Santos, o Procon informou que, até o momento, não recebeu denúncias relacionadas a esse tipo de adulteração, mas reforçou a orientação aos consumidores quanto à importância da compra responsável. Segundo o diretor do órgão, Sidney Vida, é essencial que os consumidores exijam nota fiscal, verifiquem a procedência das bebidas e fiquem atentos a rótulos, embalagens e preços muito abaixo do mercado. Ele destacou que, diante de qualquer suspeita, a prioridade deve ser a busca imediata por atendimento médico, além do registro de denúncia junto ao Procon, à Anvisa, à Vigilância Sanitária ou à Polícia Civil.
Entre as principais recomendações, o Procon orienta que o consumidor só adquira bebidas alcoólicas em locais confiáveis, verifique se os rótulos apresentam imperfeições, como erros de ortografia, lacres desalinhados ou ausência de informações obrigatórias, como CNPJ e número do lote, e nunca tente identificar a adulteração com métodos caseiros. Os sintomas de intoxicação por metanol podem surgir entre 12 e 48 horas após o consumo e incluem visão turva, dor de cabeça intensa, náuseas, tontura e, em casos mais graves, confusão mental e perda de consciência.
Prefeituras da região também se pronunciaram. São Vicente e Guarujá informaram que não há registros de casos suspeitos. Mongaguá anunciou que irá intensificar a fiscalização em bares e adegas nos próximos dias, em parceria com a Vigilância Sanitária. Em Santos, a Secretaria de Finanças e Gestão informou que 355 estabelecimentos foram vistoriados neste ano quanto à regularidade de alvarás e à procedência das bebidas. Peruíbe, por sua vez, criou um comitê de fiscalização sanitária e tributária para vistoriar os pontos de venda. Já Bertioga afirmou que as ações de combate ao problema estão sob responsabilidade do Procon-SP e da Polícia Civil. Outras cidades da Baixada Santista não responderam aos questionamentos da imprensa até o fechamento desta matéria.
Fora do Estado de São Paulo, a preocupação também é crescente. Em Mato Grosso do Sul, o Procon estadual notificou nove estabelecimentos neste ano por comercialização de bebidas suspeitas. Em ação conjunta com a Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes contra as Relações de Consumo), foram apreendidas bebidas alcoólicas falsificadas, sem registro de importação ou dados de produção, muitas delas com indícios de contrabando, descaminho ou adulteração. Uma das operações mais recentes ocorreu em uma boate localizada na Avenida Afonso Pena, em Campo Grande, onde foram encontradas cerca de 200 garrafas de bebidas importadas do Paraguai.
A Abrasel-MS (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), por sua vez, tem orientado os comerciantes a ficarem atentos a indícios de adulteração, como lacres tortos, erros de impressão e odor anormal, semelhante ao de solvente. A entidade reforça que a compra deve ser feita apenas junto a distribuidores reconhecidos e confiáveis, e que qualquer suspeita deve levar ao descarte imediato dos produtos. O presidente da Abrasel-MS, João Francisco Denardi, ressaltou que a falsificação e a adulteração de bebidas são crimes graves, que colocam em risco a saúde dos consumidores e prejudicam os empresários que atuam de forma legal.
Do ponto de vista médico, o alerta é ainda mais urgente. Segundo o médico nefrologista e presidente do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul, Dr. Marcelo Santana Silveira, o metanol tem um efeito devastador no organismo humano. A substância é convertida pelo corpo em compostos tóxicos que afetam diretamente o sistema nervoso e, especialmente, o nervo óptico. A intoxicação pode causar cegueira temporária ou permanente, além de levar à morte em casos mais graves. Os sintomas iniciais podem ser confundidos com os de uma ressaca comum, mas surgem de forma mais intensa e duradoura, especialmente após o consumo de pequenas quantidades de bebida.
Diante de sintomas como dor de cabeça intensa, alterações visuais, tontura ou náuseas após o consumo de bebida alcoólica, a orientação é procurar um pronto-socorro imediatamente. O Disque-Intoxicação da Anvisa (0800 722 6001) está disponível 24 horas por dia para oferecer orientações gratuitas à população.
Em paralelo a essas ações, uma fábrica clandestina de bebidas alcoólicas foi fechada na terça-feira (30), em Nova Mutum (269 km de Cuiabá). Três homens foram presos em flagrante durante a operação, que contou com a participação das polícias Civil e Militar. A fábrica funcionava em um galpão no bairro Cidade Nova, onde os agentes encontraram diversas garrafas de cerveja com sinais de adulteração, além de tampinhas, rótulos de marcas conhecidas e equipamentos usados para trocar rótulos e engarrafar os produtos. A perícia técnica foi acionada para avaliar os materiais apreendidos, e os suspeitos foram autuados pelos crimes de falsificação, corrupção e adulteração de substância alimentícia.
O caso segue sob investigação e se soma aos esforços das autoridades em conter a disseminação de bebidas adulteradas no país. O episódio reforça a necessidade de fiscalização rigorosa, consumo consciente e denúncia de qualquer irregularidade, visando à proteção da saúde pública e à preservação da vida.