Ana Carolina Guerra da Redação
Uma câmera de segurança registrou os momentos logo após a agressão que levou à morte da estudante Alícia Valentina, 11 anos, espancada por colegas dentro do banheiro da escola onde estudava, em Belém do São Francisco, no Sertão de Pernambuco. A gravação mostra Alícia saindo do banheiro com a mão no ouvido esquerdo e procurando ajuda de uma funcionária da escola. Quatro dias depois do ocorrido, a menina teve morte cerebral confirmada no Hospital da Restauração, no Recife, após passar por pelo menos três unidades de saúde do interior antes de ser transferida.
O caso ocorreu no dia 3 de setembro, na Escola Municipal Tia Zita, e causou comoção nacional. As imagens de segurança, registradas às 13h04, mostram o momento em que a criança, vestindo uma camisa branca e calça jeans, caminha por um pátio até a entrada do banheiro, onde já havia outros estudantes reunidos. A movimentação é intensa perto da porta do banheiro e, em determinado momento, é possível ver um dos alunos empurrando alguém, ainda que não seja possível afirmar que se tratava de Alícia. Logo depois, um menino corre do local em direção ao pátio e conversa com uma funcionária. Em seguida, Alícia aparece, visivelmente abalada, com uma das mãos cobrindo o ouvido e tentando conter o que parece ser um sangramento no nariz. Ela conversa com a profissional da escola e pede ajuda.
Segundo o boletim de ocorrência, a menina foi espancada por quatro meninos e uma menina. Ainda de acordo com o registro policial, um dos garotos teria iniciado as agressões após Alícia se recusar a “ficar com ele”, revelando motivações que especialistas associam a traços de machismo estrutural e falhas na educação emocional e sexual nas escolas. A causa da morte, segundo o atestado de óbito, foi “traumatismo cranioencefálico produzido por instrumento contundente”.
A mãe de Alícia, que preferiu não ser identificada, contou que a filha não relatou como ocorreram as agressões, provavelmente devido ao estado de choque ou às lesões sofridas. Ela disse que foi informada sobre o estado de saúde da filha por uma professora, apenas depois que a menina já havia sido encaminhada ao hospital municipal pela própria escola. Inicialmente medicada, Alícia foi liberada e levada para casa. Ainda em casa, ela teve sangramento no ouvido, o que levou a mãe a levá-la a um posto de saúde local, onde foi novamente atendida e liberada. Mais tarde, ao ver a filha vomitar sangue, a mãe a levou ao Hospital Municipal de Belém do São Francisco. De lá, a menina foi encaminhada com urgência ao Hospital Regional de Salgueiro, a cerca de 80 quilômetros de distância, e depois transferida ao Hospital da Restauração, na capital pernambucana, onde teve a morte cerebral confirmada.
A morte de Alícia escancarou não apenas a violência dentro das escolas, mas também falhas graves nos protocolos de atendimento médico e resposta institucional. Quatro dias após o ocorrido, a escola onde ela estudava retomou as aulas, em clima de luto e tensão. O caso reacendeu o debate sobre segurança nas escolas e o tratamento dado a denúncias e sinais de violência entre estudantes, especialmente em regiões com menor estrutura e suporte psicossocial. Organizações e especialistas ouvidos por veículos de imprensa apontam para a necessidade urgente de políticas públicas mais eficazes de prevenção à violência escolar, bem como de orientação sobre gênero, respeito e limites, mesmo entre crianças e adolescentes.
A Polícia Civil de Pernambuco segue investigando o caso. As identidades dos agressores não foram divulgadas, em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente, mas a mãe da vítima afirmou que um dos envolvidos tem entre 13 e 14 anos. Até o momento, não há confirmação sobre eventuais medidas socioeducativas adotadas ou responsabilizações formais.