Ana Carolina Guerra da Redação
O influenciador conservador Charlie Kirk, 31 anos, presidente da organização juvenil de direita Turning Point USA (TPUSA), foi morto a tiros nessa última quarta-feira (10), durante um evento no campus da Universidade Utah Valley, nos Estados Unidos. O ataque ocorreu por volta das 12h20 (horário local), enquanto Kirk discursava para estudantes e membros da comunidade no pátio principal do campus em Orem, cidade localizada no estado de Utah. Segundo as autoridades da universidade, o disparo foi feito a partir do Losee Center, um prédio localizado a cerca de 200 metros de distância. O atirador ainda não foi capturado, apesar de informações iniciais, posteriormente corrigidas, que afirmavam que ele havia sido detido.
Testemunhas relataram que, instantes antes do ataque, Kirk respondia a perguntas do público quando um jovem teria perguntado sobre “atiradores transgêneros”, tema que ganhou destaque nos últimos dias com rumores de que o Departamento de Justiça estaria considerando novas restrições ao acesso de armas por pessoas trans. De acordo com um participante ouvido pela CNN, após um comentário de Kirk, um único disparo foi ouvido antes que ele pudesse retomar a palavra. Vídeos publicados nas redes sociais mostram o momento em que o influenciador é atingido e a correria que se seguiu. Relatos falam em uma grande quantidade de sangue no local.
Em comunicado, a Universidade Utah Valley confirmou o incidente e informou que o campus foi imediatamente fechado.
“Podemos confirmar que o Sr. Kirk foi baleado, mas não sabemos seu estado de saúde. O suspeito não está preso. A polícia ainda está investigando”, dizia a nota divulgada horas depois.
Inicialmente, veículos de imprensa locais relataram que Kirk havia sido levado em estado crítico para um hospital, mas a confirmação oficial de sua morte veio pelas redes sociais do ex-presidente Donald Trump. Em uma publicação na Truth Social, Trump lamentou a perda e chamou Kirk de “grande, e até mesmo lendário”, dizendo que ninguém entendia melhor “o coração da juventude americana”. “Ele era amado e admirado por todos, especialmente por mim. Charlie, nós te amamos”, escreveu. A informação foi confirmada também pelo porta-voz de Kirk, Andrew Kolvet.
O ataque, que marca o 46º incidente envolvendo armas de fogo em instituições de ensino dos EUA apenas em 2025, provocou uma reação imediata de líderes políticos tanto da direita quanto da esquerda. O presidente da Câmara dos Deputados, Mike Johnson, classificou a violência política como “inaceitável” e pediu um minuto de silêncio no Congresso. O líder da maioria republicana no Senado, John Thune, afirmou que “não há lugar para violência política nos Estados Unidos”, enquanto Hakeem Jeffries, líder democrata na Câmara, declarou que esse tipo de ataque “nunca é aceitável”. O governador da Califórnia, Gavin Newsom, frequentemente apontado como potencial candidato democrata à presidência em 2028, também condenou o atentado em termos duros, chamando-o de “repugnante, vil e repreensível”. Gabrielle Giffords, ex-deputada baleada em um atentado político em 2011, afirmou estar horrorizada e lembrou que sociedades democráticas devem rejeitar a violência como forma de resolver divergências.
O FBI e a ATF, agência responsável pelo controle de armas de fogo nos Estados Unidos, estão no local e conduzem a investigação em parceria com a polícia local. Até o momento, nenhuma informação oficial foi divulgada sobre a identidade do autor do disparo. O governador de Utah, Spencer Cox, disse estar acompanhando o caso e prometeu que os responsáveis “serão plenamente responsabilizados”. Já o vice-procurador-geral dos Estados Unidos, Todd Blanche, afirmou estar rezando por seu “amigo Charlie Kirk” e reforçou que o Departamento de Justiça trata o caso como prioridade.
Charlie Kirk era uma figura central no movimento conservador jovem dos EUA e uma das principais vozes da chamada nova direita americana. Nascido em 1993 em um bairro de classe alta nos arredores de Chicago, ganhou notoriedade ainda adolescente após publicar um artigo no site ultraconservador Breitbart News, em que criticava livros escolares por promoverem, segundo ele, uma doutrinação progressista. O texto o levou a entrevistas na mídia e abriu caminho para a fundação da Turning Point USA em 2012, com o objetivo declarado de “combater a hegemonia esquerdista nos campus universitários”. Com o tempo, Kirk se consolidou como um influenciador de peso entre eleitores jovens da direita e passou a defender publicamente uma série de teorias conspiratórias, incluindo o suposto “marxismo cultural”, o globalismo, o negacionismo climático e, mais recentemente, alegações infundadas de fraude eleitoral nas eleições de 2020.
Após a derrota de Donald Trump para Joe Biden, Kirk tornou-se um dos principais defensores da narrativa de que o pleito havia sido manipulado. Seu nome passou a ser associado a grupos que promoveram os protestos de 6 de janeiro de 2021, quando o Capitólio foi invadido. Além da TPUSA, comandava a Turning Point Action, um braço político da organização que atuava diretamente em campanhas republicanas. Durante a pandemia de Covid-19, sua organização foi acusada de promover desinformação sobre vacinas nas redes sociais, o que lhe rendeu duras críticas da imprensa e da comunidade científica. Em 2020, chegou a fazer o discurso de abertura da Convenção Nacional do Partido Republicano.
Charlie Kirk era também uma figura de proximidade pessoal com a família Trump. Donald Trump Jr. e o senador JD Vance, atual vice-presidente na chapa de Trump para 2024, o descreveram como um “jovem pai admirável” e “genuinamente bom”. Nas últimas semanas, Kirk vinha sendo anunciado como uma das principais atrações de eventos pró-Trump nos estados decisivos para as eleições presidenciais de 2024, e participaria ainda este mês de uma entrevista ao vivo com o podcaster progressista Hasan Piker, que lamentou sua morte e alertou para os riscos de retaliações violentas.
A morte de Charlie Kirk marca mais um capítulo trágico na escalada de tensões políticas e ideológicas nos Estados Unidos, e levanta novos questionamentos sobre o papel das armas de fogo e da retórica extremista no cenário político do país.