Ana Carolina Guerra
A prefeita Flávia Moretti (PL) decretou estado de calamidade pública em Várzea Grande por conta da crise no abastecimento de água que atinge o município há semanas. A decisão, publicada no Diário Oficial Eletrônico, impõe restrições severas ao consumo doméstico, mas não impediu que, no mesmo dia, caminhões-pipa da Prefeitura fossem flagrados regando os canteiros do Paço Couto Magalhães, sede do poder executivo municipal.
O decreto proíbe o uso de mangueiras para lavar calçadas, fachadas, veículos e até o enchimento de piscinas, com validade de 180 dias, podendo ser prorrogado caso a situação não melhore. O texto justifica que a medida busca “garantir o mínimo de água potável à população” diante da estiagem prolongada e de “problemas estruturais do sistema de abastecimento público”.
Entre os pontos citados como críticos, o documento menciona a Estação de Tratamento de Água (ETA) Cristo Rei, localizada na Avenida 31 de Março. O decreto afirma que a unidade “encontra-se em constante manutenção, especialmente dos filtros de tratamento, em razão da utilização de tecnologia inadequada ao tipo de captação avançada e de alta complexidade operacional”.
A citação, porém, contradiz as declarações da prefeita feitas no mesmo dia, durante entrevista concedida na Câmara de Vereadores. Questionada sobre um possível vazamento na ETA Cristo Rei, apontado por moradores como uma das causas da falta de água, Flávia negou. “Desconheço esse vazamento. O problema do Cristo Rei é a grande população. A maioria é abastecida por gravidade e temos dificuldade de bombeamento nas regiões mais distantes da ETA”, afirmou.
Ainda segundo a prefeita, a região mais afetada no momento é o bairro Imigrantes, onde uma bomba estourada estaria comprometendo o fornecimento. “Está sendo feita a manutenção dela, mas nós não temos bomba reserva. Estamos aguardando a liberação do recurso do Governo do Estado”, explicou.
Enquanto isso, moradores de vários bairros protestaram em frente à ETA 24 de Dezembro, denunciando estar há mais de dez dias sem uma gota d’água nas torneiras. Com baldes e cartazes, exigiram soluções imediatas. “A gente vê caminhão molhando canteiro, mas não tem água pra cozinhar”, disse uma moradora durante o ato.
A situação evidencia o colapso estrutural do sistema de abastecimento de Várzea Grande, que há anos sofre com equipamentos antigos, falhas de manutenção e crescimento urbano desordenado. O decreto de calamidade pública permite que a Prefeitura contrate serviços e adquira materiais emergenciais sem licitação, o que pode acelerar as obras e reparos, mas também exige transparência e fiscalização para evitar abusos.
Mesmo com a medida, o clima entre os moradores é de descrença e revolta. A cidade, que enfrenta uma das piores crises hídricas dos últimos anos, vive um contraste entre o discurso de emergência e as cenas de desperdício em áreas públicas. Para muitos, a calamidade não está apenas nas torneiras secas, mas na falta de gestão e planejamento que transformou o abastecimento de água em um problema crônico.