O Brasil estabeleceu uma das metas mais ambiciosas da sua história recente no setor agropecuário: recuperar 40 milhões de hectares de pastagens degradadas em dez anos. A iniciativa faz parte do Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas em Sistemas de Produção Agropecuários e Florestais Sustentáveis (PNCPD), recém-lançado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), com foco em produtividade sem avanço sobre novas áreas naturais.
A estratégia se apoia em dados alarmantes: cerca de 60% das pastagens brasileiras — mais de 100 milhões de hectares — apresentam algum nível de degradação. O passivo ambiental e produtivo é gigantesco, comprometendo tanto o desempenho econômico quanto o equilíbrio dos ecossistemas. A meta de conversão representa cerca de um quarto dessas áreas críticas e, se bem-sucedida, poderá colocar o país na vanguarda global da agropecuária de baixa emissão.
AGRICULTURA DE PRECISÃO PARA UM FUTURO SEM DESMATAMENTO
Com a pressão global por cadeias de produção mais limpas e a urgência em mitigar os efeitos da mudança climática, o governo brasileiro aposta em inovação tecnológica e manejo regenerativo como pilares do novo modelo produtivo. O plano é claro: expandir sem desmatar. Para isso, o foco está em aumentar a eficiência de áreas já abertas — e subutilizadas.
Entre as soluções mais promissoras, ganha destaque o consórcio de culturas, técnica que vem sendo aplicada com sucesso por instituições de pesquisa como o Instituto de Zootecnia (IZ-Apta). O modelo combina o plantio de grãos, como soja e milho safrinha, com gramíneas tropicais como o capim Aruana e o Ruziziensis, promovendo benefícios agronômicos e ambientais ao solo.
“A integração de culturas potencializa o uso dos nutrientes e melhora a estrutura do solo. Isso significa mais produtividade com menos insumos, além de ganhos significativos em acúmulo de carbono e nitrogênio”, detalha Karina Batista, pesquisadora do IZ. As vantagens vão além do campo: esse tipo de manejo pode reduzir emissões de gases de efeito estufa e garantir segurança alimentar em períodos de seca.
GRAMÍNEAS E O SOLO COMO ALIADOS DO CLIMA
A escolha das gramíneas não é aleatória. O capim Aruana, por exemplo, favorece a absorção de cálcio e magnésio — essenciais para a recuperação da fertilidade em áreas degradadas. Já o Ruziziensis é conhecido por sua eficiência na reciclagem de fósforo e potássio, dois dos nutrientes mais escassos e caros para a agricultura.
Além do solo, a produção de silagem com essas forrageiras representa um salto qualitativo na alimentação animal, especialmente durante a estiagem. Isso eleva o padrão da pecuária brasileira, ao mesmo tempo em que reduz a necessidade de abrir novas áreas de pasto.
DESAFIO: ESCALA E ENGAJAMENTO
Apesar dos avanços técnicos, o maior desafio é a adoção em massa dessas práticas. Para isso, o PNCPD prevê ações robustas de capacitação técnica, assistência rural especializada e crédito acessível e alinhado com a lógica da sustentabilidade. Sem adesão dos produtores, o plano perde tração.
O programa está integrado ao Plano ABC+, que norteia a política nacional de agropecuária de baixa emissão até 2030. Ambos compartilham a missão de transformar o Brasil em um exemplo global de produção agrícola sustentável — com base em ciência, inovação e reaproveitamento de áreas já impactadas.
POTÊNCIA AMBIENTAL: DO DISCURSO À PRÁTICA
A recuperação de pastagens degradadas vai além do discurso ambiental. É uma medida estratégica para responder à demanda crescente por alimentos, proteger biomas sensíveis como Amazônia e Cerrado, e garantir competitividade em mercados exigentes. A meta de 40 milhões de hectares pode parecer ousada, mas representa a única direção viável diante de um cenário global de emergência climática e esgotamento dos recursos naturais.
O Brasil tem solo, tecnologia e conhecimento. Falta agora escala e vontade política contínua. A corrida já começou — e quem ficar para trás poderá comprometer não só o agronegócio, mas a imagem ambiental do país no cenário internacional.
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🎥: Fonte | paranatinganews