Desde o início de abril, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) intensificou uma ofensiva coordenada em várias regiões do país, totalizando 23 invasões em apenas dez dias. As ações fazem parte da chamada “Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária”, conhecida como Abril Vermelho, e ocorrem em um ritmo acelerado, equivalente a 2,5 ocupações por dia.
As ocupações incluem não apenas fazendas e propriedades rurais privadas, mas também instalações públicas e áreas de pesquisa, como a fazenda experimental da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), em Mossoró (RN). De acordo com o MST, o objetivo é pressionar o governo federal a avançar em políticas efetivas de reforma agrária.
O movimento, no entanto, enfrenta crescente oposição. A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) classificou o cenário como uma ameaça à segurança jurídica no campo, responsabilizando o governo federal por uma postura “permissiva”. Em nota, a FPA afirma que tais ações colocam em risco não apenas a produção agropecuária nacional, mas também a integridade física e patrimonial de produtores e suas famílias.
ESCALADA EM PERNAMBUCO: MAIOR FOCO DAS OCUPAÇÕES
Somente no estado de Pernambuco foram registradas ao menos nove invasões desde o dia 5 de abril. A ofensiva começou com a ocupação da Usina Santa Teresa, em Goiana, e se espalhou rapidamente por diversas regiões do estado. Propriedades como a Fazenda Galdino (Riacho das Almas), Fazenda Barra da Ribeira (entre Águas Belas e Iati) e a Fazenda CopaFruit (Petrolina), além de antigas usinas como Nossa Senhora do Carmo (Pombos) e Santa Pânfila, foram alvo do movimento.
As ações demonstram uma articulação que vai além da ocupação territorial: os alvos incluem áreas em processo de desapropriação, propriedades com passivos ambientais e ativos em litígio com o Estado. O grupo também se estabeleceu em locais que o próprio Incra reconhece como de interesse para reforma agrária, mas que até agora não tiveram seus processos efetivados.
NORDESTE, SUDESTE E CENTRO-OESTE: ABRIL VERMELHO É NACIONAL
No Rio Grande do Norte, o MST ocupou pela primeira vez durante um Abril Vermelho uma propriedade estadual. A ação na fazenda experimental da Ufersa levou a universidade a buscar negociação direta, para evitar prejuízos ao patrimônio público.
Na Paraíba, três ocupações simultâneas chamaram a atenção das autoridades. A mais expressiva ocorreu na Fazenda Olho D’água do Rangel, com 1.600 hectares. Em todos os casos, representantes do Incra e forças de segurança estiveram presentes, buscando intermediar as tensões.
Em Minas Gerais, a Fazenda Rancho Grande — produtora de café com quase um século de existência — foi ocupada. Em São Paulo, a justificativa da ocupação da Usina São José, em Rio das Pedras, se apoiou em denúncias ambientais contra a empresa.
No Rio de Janeiro, a Fazenda Santa Luzia, da Coagro — que enfrenta recuperação judicial — foi invadida. Já em Goiás, o grupo promoveu não apenas a ocupação da Fazenda São Paulo, em Água Fria, como também entrou na Superintendência do Incra, em Goiânia, exigindo assentamentos para famílias acampadas.
PRESSÃO POLÍTICA E REAÇÃO EM CADEIA
A movimentação do MST neste Abril Vermelho ultrapassa os limites do campo. As ações atingem áreas sensíveis, incluindo universidades e órgãos públicos, aumentando a tensão entre ruralistas e o governo. A Frente Parlamentar da Agropecuária pressiona por respostas imediatas, enquanto o MST mantém sua agenda até o dia 17 de abril, prometendo novas ações.
A cada nova ocupação, cresce a cobrança por uma resposta institucional do Executivo. A ausência de mediação antecipada e a morosidade nos processos de regularização fundiária formam um caldo político que pode escalar, caso o padrão atual de invasões se mantenha ou se amplie nas próximas semanas.
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🎥: Fonte | jopioneiro